Tempos de uma Casa: os bastidores da elegância do cotidiano na Casa Museu Ema Klabin

Há casas que guardam mais do que móveis e obras de arte. Guardam gestos, vozes, perfumes, e um tempo que ainda parece respirar pelas frestas. É esse tempo, íntimo e silencioso, que a exposição "Tempos de uma casa", em cartaz até 26 de outubro deste ano na Casa Museu Ema Klabin, na capital paulista, convida o visitante a revisitar.

Com curadoria de Paulo de Freitas Costa, a mostra propõe um olhar diferente sobre a residência onde viveu Ema Klabin (1907–1994), uma das grandes colecionadoras e mecenas da cena cultural paulistana. Em vez da imagem idealizada das mansões de cinema, o público é levado aos bastidores de uma casa real, feita de rotinas, relações e lembranças partilhadas.

É claro que cotidiano é algo muito particular e reflete a realidade de cada um: eu e você podemos ter memórias diferentes das casas em que vivemos, com seus objetos simples ou rebuscados. O que encanta bastante nesse museu, e nessa exposição, é justamente observar quais eram os elementos que permeavam o cotidiano dela, Ema, que morava sozinha naquela imensa mansão, acompanhada apenas de seus funcionários, mas parecia ter uma vida animada, com visitas da irmã, Eva, e de muitas amigas e amigos, artistas, pintores, músicos.

Um Chagall ou dois

De repente, num passeio simples pela sala, opa!, lá está um Chagall. Ou dois. E, logo ali, na entrada da linda biblioteca, nada menos que obras de Rembrandt e Albrecht Dürer. Para quem ama arte, a pergunta é inevitável: como será que é viver assim, cercada de itens tão belos, tão raros? E como ela conseguiu? Aparentemente, Ema era muito amada pelos funcionários e se dava muito bem com a nata artística de sua época. Bem relacionada, culta, dá para perceber seu olhar cuidadoso ainda presente em cada detalhe.

Entre os destaques da exposição "Tempos de uma casa" estão mais de 80 documentos, 60 fotografias e 90 objetos pessoais e domésticos, muitos deles apresentados pela primeira vez. Há frascos de perfume em cristal com tampas de ouro, licoreiras, travessas de caviar, relógios de viagem e um caderno onde Ema anotava, com precisão, os detalhes de cada jantar: a escolha das porcelanas, os vinhos, o arranjo das flores. Também estão expostos convites para eventos históricos, como o chá oferecido à Imperatriz do Irã e a recepção à Rainha Elizabeth II, e registros que mostram Ema como anfitriã, empresária e presença constante na vida cultural da cidade.

Conexão com os funcionários

Mas talvez o aspecto mais comovente da exposição seja a homenagem aos funcionários que mantinham a casa em funcionamento. Como ficamos sabendo na mostra, Ema vivia sozinha na casa, mas dependia da ajuda de muita gente para manter toda aquela máquina funcionando. E, pelas fotos e depoimentos de seus funcionários, todos tinha muita admiração e respeito por ela, e esses elementos aparecem agora como parte essencial da narrativa, lembrando que, por trás da sofisticação, havia um cotidiano tecido por muitas mãos. Como diz o curador da mostra, “embora Ema morasse sozinha, nunca viveu isolada: havia toda uma rede ao seu redor.”

Aberta ao público desde 2007, a Casa Museu Ema Klabin completou 18 anos de funcionamento. Além de seu acervo de mais de 3.500 peças, com obras de Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Marc Chagall e Frans Post, o espaço preserva o jardim desenhado por Roberto Burle Marx e a decoração de Terri Della Stufa. Um conjunto que mistura arte, história e o espírito acolhedor de sua antiga moradora.

Mais do que uma exposição sobre objetos, Tempos de uma casa é um convite à escuta. E é justamente esse eco de presenças que torna a visita à Casa Museu Ema Klabin uma experiência viva, delicada e profundamente humana.

Palestras abertas ao público

Além das exposições e do acervo permanente, a Casa Museu Ema Klabin recebe especialistas para palestras. No sábado, 4 de outubro, a jornalista e pesquisadora Viviane Soares Aguiar apresentou o incrível tema "Na cozinha de casa: mulheres, poderes e resistências", alinhavando a temática da mostra "Tempos de uma casa" com a trajetória social, arquitetônica e imagética das cozinhas e suas associações ao feminino. Mestra e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, Viviane entrou com as participantes da palestra na cozinha que um dia foi de Ema Klabin, e preserva ainda os azulejos de tomatinhos e os armários de fórmica coloridos, que marcaram época. Vale a pena acompanhar o site e as redes sociais do museu e ficar de olho na programação, os valores das palestras são bem acessíveis (geralmente, em tono de R$ 10).

Bazar da Cidade

Aproveitando, neste fim de semana de 11 e 12 de outubro, a Casa Museu Ema Klabin recebe o tradicional Bazar da Cidade, com barracas que ocupam os belos jardins e espaços externos do museu.

O evento reúne arte, moda, gastronomia e sustentabilidade, e tem entrada gratuita. É a oportunidade de fazer um passeio diferente, conhecer e comprar produtos de cerca de 60 empreendedores independentes.

Além das compras, os visitantes poderão aproveitar uma programação cultural variada, com oficinas para as crianças e experiências para todas as idades. Entre as obras mais marcantes presentes no Bazar, estão os "Pedidores de Abraços", do ateliê Armoriarte, que vêm conquistando admiradores no Brasil e no exterior.

Vai lá: 🍋

📍 Casa Museu Ema Klabin - Exposição Tempos de Uma Casa

Até 26 de outubro de 2025
Rua Portugal, 43, Jardim Europa, São Paulo (SP)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Gratuito para estudantes e professores da rede pública
🕒 Funcionamento: quarta a domingo, das 11h às 17h (permanência até 18h)
@emaklabin